domingo, 13 de fevereiro de 2011

  
A chuva caía, cada vez mais fraca, e eu estava ali, observando cada gota cair lentamente sobre a grama encharcada. Já não era tão noite, o céu começava a clarear, mas eu ainda estava ali, acordada, imóvel, desviando meus olhos para a chuva que caia lá fora, e para o telefone que estava na escrivaninha. Esperança frustada, porque eu sabia que ele nunca mais me ligaria de novo, mas eu insistia em olhar o telefone, esperando que aquele som agudo do toque quebrasse o silêncio.

Naquela noite, eu pensei em tudo. Minha vida podia ser completamente diferente, se eu não tivesse medo. Medo dos meus pais, que nunca iriam aceitar a minha escolha. Medo dos meus amigos, o que eles iam pensar se eu sumisse no mundo, atrás de uma pessoa praticamente impossível? Medo de tudo. E eu não quis pensar em modos de ir embora, então fiquei ali mesmo, naquela cidadezinha que não me daria futuro nenhum. Se eu pudesse… voltar no tempo, tudo seria tão bom. Eu, sem dúvidas, deixaria meu medo evaporar, e só com meus sonhos, eu iria sair daqui e ir em busca da minha felicidade. Eu teria ligado pra ele. Teria pedido pra ele me esperar, em casa. Mas eu não fiz isso, eu permaneci ali, e deixei seu caminho livre. É, ele me dizia que não queria ser livre, mas o que eu podia fazer? Eu era covarde.

O telefone ainda parecia estar morto. Tudo parecia estar morto essa noite, e talvez esteja mesmo. Talvez eu esteja morta, mas ainda não consegui me encontrar. A chuva, tão pura. O céu já estava claro. Nossa, eu tinha passado a noite acordada, com o mesmo pensamento. E eu olhei o telefone, ainda estava mudo. Peguei-o, admirei. É, ele não ia mesmo me ligar. Afinal, daonde ele ligaria? Ele podia ter ficado em casa na noite passada, poderia ter evitado todo aquele drama. Na verdade, eu poderia ter evitado aquele drama, mas eu não evitei. Amanhã, eu vou para lá, o lugar que eu deveria ter ido a muito tempo, mas não fui, medrosa. Vou comprimentar os pais dele, com que cara vou chegar lá? Todo aquele clima… que eu poderia ter evitado. Tenho vontade de me jogar do avião, mas não vou. Vou ser forte, porque a vida, de alguma forma, me ensinou que ser fraca é a morte, literalmente. O telefone mudo tirou todas as minhas esperanças, de escutar sua voz uma única vez. E a chuva lá fora, só me mostra o que eu quero esquecer. Um passado que não volta nunca mais.

O corpo dele foi entregue ao solo, no dia em que eu o jurei nunca mais atrapalhar sua vida, no dia que ele saiu de carro desesperado e bateu no poste, no dia em que uma parte de mim se partiu. Corpo que agora é regado pela chuva que bate lentamente na grama. E o telefone… ah, ele não tocará nunca mais.


              (Atrw) 

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